Capítulo
5
A Atenção Concentrada a
Partir do Primeiro Ano
Entre Um e Dois Anos
Neste período, a criança
estará explorando o mundo de forma ativa, desenvolvendo um senso cada vez mais
forte de quem ela é1.
Nesta fase, a atenção concentrada dos pais deve ajudar
a criança a entender como o mundo funciona, suas leis de causa e efeito, e a
resolver problemas sociais complexos, como respeitar limites e fazer
solicitações adequadas.
Eis algumas sugestões de como melhor ajudar seu filho nessa etapa:
a. Mostre verdadeiro interesse,
apreciação e orgulho pelas coisas que ele faz. Não responda às suas
solicitações de atenção com enfado ou irritação.
b. Divirta-se enquanto se
comporta tolamente sob o estímulo de
seu filho. Deixe-o provocá-lo com sons bobos, ou gestos incoerentes e entre na dele, divertindo-se enquanto
também faz movimentos ou sons engraçados. Você estará dando um importante
reforço à sua criatividade e individualidade.
c. Deixe-o ser o chefe da
brincadeira, e siga suas instruções.
d. Ajude-o a expressar todas as
suas emoções. Não o critique por estar com raiva ou triste. Mostre que é normal
sentir-se assim de vez em quando, e que isso vai passar. Reconheça as emoções,
mesmo as negativas, acolhendo-as graciosamente, mas não permita que sejam
acompanhadas de agressão ou violência (“Você está muito brava com a mamãe,
não é mesmo?!? É porque eu não deixei você atirar a boneca pela janela? Entendo
que você ficou brava. Isso é normal. Mas não quero mesmo que você faça mais
isso.”)
e. Ajude seu filho a respeitar
limites. Demonstre sua seriedade através de linguagem não-verbal coerente
(olhar sério, dedo em riste, voz firme. Mas não grite ou xingue). A criança necessita de limites para
organizar seu comportamento e se sentir mais segura.
f. Estimule-o a brincar com
amigos da mesma idade e a interagir construtivamente com eles.
g. Continue estimulando-o a se
comunicar intensamente com você, mostrando-se atento e interessado em suas
atividades, conquistas e emoções. Esteja genuinamente
envolvido nas coisas que despertam o interesse de seu filho.
h. Desafie seu filho a comunicar o que ele deseja através de gestos e comportamentos,
ao invés de simplesmente adivinhar suas
vontades para fazer as coisas andarem mais rápido.
i. Não o rotule como bom ou mau. Reconheça suas características básicas, como o que lhe dá
prazer ou ira, e procure respeitá-las.
j. Estimule-o a imitar você.
Divirta-se com isso. Explore esses momentos de forma lúdica e agradável. Jogue
o jogo da imitação, revezando com seu
filho.
k. Desafie seu filho a resolver
problemas de maneira lúdica, como escondendo seu brinquedo na prateleira e
pedindo a ele que o encontre, ou a dizer alguma palavra quando quiser algo,
como “água”, ou “por favor”.
Exercícios:
1. Quais os principais
objetivos da atenção concentrada dos pais nesta fase entre o primeiro e o
segundo ano de idade da criança?
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2. Como melhor ensinar seu
filho a respeitar limites? Dê exemplos de comportamentos dos pais que ajudam e
que atrapalham neste aprendizado.
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3. Em vez de rotular a
criança, o que os pais devem fazer?
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4. Encenem em grupo maneiras
diferentes de estimular a criança a expressar suas emoções e vontades.
Entre Dois Anos e Dois Anos e Meio
Neste
período, a criança demonstrará marcante capacidade de criar símbolos e idéias.
Também afirmará sua personalidade através de negativas ou antagonismos com os
pais. É a fase do não, e os pais
precisam encarar esta atitude de forma positiva, pois é sinal de que a criança
está criando um espaço próprio de identidade e vontade. Ela estará sendo tanto
uma construtora de imagens mentais quanto de comportamentos.
A atenção concentrada dos
pais deve, nesta etapa, ajudar o filho a lidar com a criatividade à medida que
explora idéias e conceitos cada vez mais complexos. Assim aprenderá a interpretar o mundo à sua volta e o seu papel como indivíduo
dentro dele.
A principal atividade lúdica
e pedagógica com crianças desta idade é o jogo
de faz-de-conta brincado no chão, por exemplo, gato e rato, mocinho e
bandido, cavalo e cavaleiro, etc.
Isso inclui a imitação de situações diárias, como a mamãe fazendo comida, ou o
papai cuidando do carro, etc. Panelinhas, carrinhos, casinhas, e outros
brinquedos que imitem objetos do dia-a-dia, assim como bonecos e fantoches,
também servem para esse tipo de brincadeira.
a. Reserve 20 a 30 minutos de
seus momentos diários mais relaxados para brincar com seu filho neste mundo de
faz-de-conta.
b. Dialogue intensamente com a
criança, explorando sua capacidade de responder. Jogue o jogo do diálogo. Se a
criança diz “água”, em vez de simplesmente dar-lhe água, pergunte de
modo provocativo: “quem quer água?”, depois, “e onde está a água?”,
“onde coloco a água?”, etc.
A Partir dos Dois Anos e Meio
A
partir dos dois anos e meio, a criança estará cada vez mais formando conexões
lógicas entre as coisas, idéias e fatos da vida.
Os
pais devem usar sua atenção concentrada para estimulá-las no desenvolvimento do
raciocínio lógico, dos padrões de comportamento moral, e das leis de causa e
conseqüência.
a. Desafie seu filho a explicar
quem, o que, por que, como, quando e onde, através de perguntas inseridas no contexto das coisas diárias. “Quem vai chegar daqui a pouco do
trabalho?”, “Por que a gente deve
lavar as mãos antes de comer?”, “Onde
devemos colocar o lixo?”, etc.
b. Brinque de faz-de-conta durante 20 a 30 minutos
diários, com histórias mais elaboradas, como visitar o vovô, ir ao
supermercado, receber visitas,
etc.
c. Estimule conversas
reflexivas e desfrute delas. Encoraje a criança a relatar detalhes, em vez de
simplesmente dizer sim ou não.
d. Explique o motivo pelo qual
você faz determinadas solicitações, em vez de simplesmente emitir ordens: “Filho, primeiro o almoço, depois o sorvete!
Para você crescer como o papai precisa de arroz, feijão, salada e carne.
Sorvete é só para enfeitar barriga!”, em vez de: “Larga já este sorvete! ... Já mandei largar!”.
e. Tenha prazer em conversas
demoradas a respeito de tudo, mostrando interesse pelas visões de seu filho e
estimulando-o a emitir opiniões e fazer julgamentos.
f. Não resolva os problemas
para seus filhos. Dê-lhes tempo para resolvê-los por si só, sempre que
possível.
g. Tenha prazer em contar
histórias para a criança. Repita-as tantas vezes quanto ela desejar!
h. Encoraje seu filho a
identificar e expressar seus sentimentos em relação às coisas, tanto em jogos
de faz-de-conta quanto em conversas sobre coisas do dia-a-dia.
i. Exponha seu filho a uma rica
variedade de experiências e atividades, como passear, fazer compras, andar de
bicicleta, montar quebra-cabeças, escutar música, dançar, etc.
j. Ajude-o a entender cada vez
melhor conceitos como tempo, quantidade, seqüência, causalidade, etc., e a
lidar com eles no dia-a-dia. Por exemplo: “Daqui
a quinze minutos, nós vamos sair. Quinze minutos é quando o ponteiro grande
chegar aqui em cima, no 12!”; “Filho,
por favor, apanha na prateleira, para a mamãe, duas latinhas amarelas de
milho.”; “Filha, por que você acha que o gatinho está bebendo água?”, etc...
Exercícios:
1. Dê alguns exemplos de
jogos de faz-de-conta que podem ser brincados com a criança. Teatralize com
seus colegas alguns deles.
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2. Crie alguns exemplos
adicionais de perguntas que os pais podem fazer para os filhos nesta fase, para
estimular sua capacidade de responder e raciocinar.
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3. Como você pode criar o
hábito de explicar para seu filho por que algo deve ou não deve ser feito, em
vez de simplesmente dar ordens?
_______________________________________________________________________________________
4. Encenem em grupo uma
história faz-de-conta mais complexa, baseada na realidade, do tipo “ir ao
supermercado”, “visitar a vovó”, etc.
5. Escolha e escreva abaixo,
para cada faixa etária, três ações de atenção concentrada que você considera
importante ou que mais chamou sua atenção (de acordo com o grau de
importância):
entre um e dois anos de idade: _______________________________________________________
entre dois anos e dois anos e meio: ___________________________________________________
a partir de dois anos e meio:
_________________________________________________________
A
Atenção Concentrada até a Puberdade
Uma
vez que tenhamos enfrentado os três primeiros meses e os três primeiros anos do
desenvolvimento de nossos filhos, os demais anos serão basicamente uma expansão
das formas de interação construídas até aqui.
Eis algumas dicas que ajudarão a perceber como funcionam
as coisas neste período:
a. Lembre-se que os momentos de
atenção concentrada são aqueles que
você dedica a cada um de seus filhos separadamente. A atenção concentrada de
cada um dos pais é uma necessidade vital
dos filhos.
b. Os momentos de atenção
concentrada não vêm por mágica. Agende e reserve tempo para estar a sós com
cada um dos filhos, regularmente.
c. Olhe seu filho nos olhos e
toque nele com carinho nesses momentos. (Lembre-se da regra básica: precisa ser
confortável!)
d. Planeje ocasiões que possam
se tornar momentos de atenção concentrada (um lanche na ida ao médico, ajudar
numa tarefa doméstica, assistir um filme, etc.). Esteja atento para transformar momentos corriqueiros da vida
em momentos especiais.
e. A atitude é o que mais
importa: uma piscadinha de olho para
o filho e um convite para dar uma passadinha
na lanchonete para fazer um lanchinho “só nós dois!”, pode representar algo imenso em termos emocionais.
Uma avó dava para o neto seus comprimidos de remédio para que ele chupasse a
casquinha colorida e doce, antes de ela ingeri-los. Um pai revezava o nome das
filhas quando contava a história dos três porquinhos. O porquinho da casa de
tijolos, que o lobo não conseguia destruir, tinha o nome da homenageada. Seja imaginativo!
Divirta-se! O importante é criar um espírito de cumplicidade com cada um dos
filhos, tornando-o especial em
certos momentos.
f. Esteja atento aos momentos
passageiros e às oportunidades que a vida oferece para a atenção concentrada:
prestar atenção ao relato de uma vitória do filho, o momento de ir para a cama
(contando uma história deitadinho ao
seu lado. Revezando de cama, no caso de vários filhos!), etc.
g. Crianças menos exigentes
tendem a ser as mais negligenciadas pela atenção dos pais. Quem não chora
não mama, tende a ser uma regra em lares com muitos irmãos. Por isso, os
pais devem ficar atentos para não atender somente a criança mais solicitadora
(em geral, os meninos), e serem cuidadosos para distribuir a todos uma parcela
considerável e justa de sua atenção. Nessas famílias numerosas há necessidade
de alternar a atenção aos vários filhos, e, de forma consciente e natural,
saber distribuir seu tempo, pois os filhos do meio tendem a se sentir mais
prejudicados pelo excesso de atenção dada ao primogênito e ao caçula.
h. Os pais devem ficar atentos
para não roubar a atenção de qualidade dos demais filhos por ocasião de
dificuldades de um deles, como doenças ou dificuldades na escola. A criança que
se sente privilegiada em função de
seus problemas, tende a privilegiar seus
problemas para manter os privilégios!
Os demais tendem a sofrer uma angústia
muda e difícil, pois ficam ressentidos, em função da falta de atenção
paterna, e sentem-se culpados deste ressentimento, em função da doença do
irmão. Por isso, é importante dispensar atenção à criança necessitada, mas não
numa dimensão que a torne o centro do universo familiar e um buraco-negro que suga todas as atenções
familiares.
i. É importante dar-se conta de
que a necessidade de atenção concentrada aumenta
com a idade. À medida que a criança começa a compartilhar de uma parcela
cada vez maior do mundo e do entendimento dos pais, sua necessidade de tempo de
qualidade com cada um deles aumenta. Muitos pais cometem o equívoco de ir
deixando seus filhos mais e mais soltos,
à medida que se mostram mais independentes, mas isso é um erro. Eles precisam
de momentos regulares de diálogo, lazer
e interação com os pais.
j. Um equívoco comum de pais
que não dedicam seu tempo a seus filhos é enchê-los de presentes e mimos como
substitutos da atenção. Isso geralmente é causado por sentimentos de culpa, ou
para compensar o que o pai não teve na sua própria infância. O que os
filhos mais precisam dos pais não custa nada, mas exige definição de
prioridades.
k. Os pais precisam definir
sinceramente onde estão seu filhos na sua lista de prioridades. Isso é
essencial para a atribuição de tempo a ser despendido com eles. Nenhum de nós
jamais terá tempo suficiente para atender a todas as demandas da vida. O tempo
é nosso bem mais precioso, mais escasso e mais passageiro. Assim, precisamos aprender a reservar tempo para as coisas importantes, não permitindo que
ele seja totalmente consumido pelas coisas
urgentes. Por exemplo, se estamos brincando com nossos filhos e o
telefone toca, deveríamos voltar a dar atenção ao filho depois da conversa; ou
desconsiderar o telefone e seguir com a brincadeira. Se for algo muito sério,
certamente voltarão a chamar mais tarde.
l. Muitos problemas de
comportamento na meninice podem ser facilmente contornados com a atenção
concentrada. Passar momentos de lazer prazerosos com cada um dos filhos é de um
imenso valor terapêutico para distúrbios de comportamento, que muitas vezes têm
sua origem no sentimento de rejeição nutrido pela criança.
m. Embora a TV possa parecer
uma grande bênção como babá substituta, o fato é que ela não poderá jamais
substituir a interação amorosa com os pais. Lembre-se que a TV tem um botão de
liga-desliga e de mudança de canal! Os filhos acatam ordens coerentes e podem
ser educados a não depender da TV como maior companhia nos momentos de lazer.
Uma babá de verdade, da mesma forma,
não deveria ser empregada como substituta
da mãe, apenas para facilitar a
vida dela. Nestes casos, não é de estranhar que as crianças tenham muito mais
estima pelas babás do que pelos pais, o que, geralmente, complica a situação
pelas manifestações de ciúmes e cobrança emocional que eles transmitem.
n. A atenção concentrada não
depende apenas de momentos de lazer. Realizar tarefas domésticas de ajuda aos
pais pode ser uma maravilhosa ocasião para desfrutar desta relação íntima e
fecunda. Ajudar a mãe a fazer um bolo, ou a limpar a cozinha, ou o pai a limpar
a garagem, ou reparar a casa ou o carro, podem ser momentos preciosos de
atenção e companheirismo. É fundamental, entretanto, que os pais se mantenham
animados, de bom-humor, pacientes e calmos durante estes momentos.
o. Outra coisa a ser evitada é
dar atenção concentrada ao filho quando você não está nem um pouco disposto a
isso, por sentimento de culpa, ou por achar que “se isso é tão importante,
tenho que dar de qualquer forma”. Tais momentos geralmente viram uma
experiência frustrante para pais e filhos. O que tende a acontecer é: 1) o
filho logo perceber que o pai está ali de má vontade, e interpretar isso como
uma demonstração de rejeição; 2) o pai, por estar contrariado, perder a
paciência facilmente e brigar com a criança, gritar com ela, ou mesmo destruir
seus brinquedos. Nestes casos, é muito melhor ter uma conversa franca com o
filho, explicando que não está em condições de brincar, e ficar abraçadinhos
vendo TV.
Exercícios:
1. Como deveriam ser os
momentos de atenção concentrada?
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2. Em que momentos podemos
praticar a atenção concentrada?
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3. Analise a seguinte
afirmação: “A necessidade de atenção concentrada aumenta com a idade”.
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4. Por que é necessário os pais
estabelecerem prioridades no seu uso do tempo?
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5. Nesta última semana, quais situações você considerou
como importantes e como urgentes em sua vida. Em quais momentos
os assuntos importantes não foram invadidos pelos urgentes?
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6. Relate fatos da vida real
que comprove a seguinte afirmação: “Crianças menos exigentes tendem a ser as
mais desatendidas pela atenção dos pais”.
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“Maria e João Paulo tiveram filhas gêmeas idênticas e
tentaram tratá-las tão igual, que até os nomes eram semelhantes: Luciana e
Luciene. As meninas eram verdadeiras gracinhas. Usavam roupas com modelos
iguais, ora de cor diferente, ora da mesma cor. Eram tratadas igualmente. O
presente de uma era o presente da outra. O carinho dedicado a uma era o mesmo
dedicado à outra. Só passeavam juntas com Maria e esporadicamente a família
saía para programas diferentes. Tudo ia muito bem, até que Luciene de risonha,
tornou-se triste, começou a regredir nos estudos e passou a agredir seus pais”.
Baseado na história acima discuta com seu grupo:
7. Se você fosse pai ou mãe de
gêmeos daria esse mesmo tratamento que os pais citados?
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8. Reescreva esta história tomando como base a atenção
concentrada discutida neste módulo.
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Notas e Bibliografia:
1. A maioria das atitudes e atividades
sugeridas aqui e nos tópicos seguintes provêm das pesquisas lideradas pelo Dr.
Stanley Greenspan. Vide Greenspan, Stanley. Filhos Emocionalmente Saudáveis,
Íntegros, Felizes, Inteligentes. Tradução de Sérgio Teixeira. Rio de
Janeiro: Campus, 2000.
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