Capítulo 3
O Poder do Toque Amoroso
Assim como o
olhar carinhoso, o toque amoroso é um poderosíssimo instrumento da comunicação
do amor1. Quando a mãe e o pai afagam o bebê, colocam-no no colo,
fazem cosquinhas, brincam com seus
dedinhos ou seu cabelo ou lhe fazem massagem, estão dando a ele uma das maiores
dádivas que uma criança pode receber. E é tão fácil!
Estudos
demonstraram que o toque amoroso não apenas ajuda a criança a se acalmar, mas
também contribui para o seu desenvolvimento. Crianças que são tocadas com
carinho liberam mais hormônio de crescimento (GH, um grande responsável
pelo desenvolvimento físico e pelo bem-estar) e produzem menos cortisol (responsável
pelo desgaste físico e emocional) do que as que não o são2. Além
disso, na dimensão emocional, o toque afetuoso estimula tranqüilidade,
segurança, consolo e otimismo.
Apesar disso
tudo, a maioria dos pais só toca seus filhos quando a necessidade exige,
como para apressá-los no banho, ou para entrar no carro, ou para atravessar com
segurança a rua. Isso é um grande desperdício de um instrumento vital para a
comunicação de nosso amor pelos filhos. As crianças precisam, para sentir-se
amadas, do toque amoroso regular. Não apenas do abraço e do beijo, mas também
de todas as expressões menos formais,
como cafuné, cosquinhas, massagem, tapinhas, etc.
Todo o toque
amoroso é registrado emocionalmente, mesmo que passageiro, como quando o pai ou
a mãe descansa a mão no ombro do filho ao passar por ele, ou quando passa a mão
nos seus cabelos, sem dizer nada, ao vê-lo assistindo TV.
As
observações feitas anteriormente sobre o olhar, com relação às crianças mais
defensivas ou púberes, também se aplicam ao toque. A regra fundamental também é
que o toque amoroso deve ser confortável e agradável, não excessivo nem
exibicionista. Cada pai deve descobrir, na interação empática com cada um dos filhos, quais os toques que lhes
são mais agradáveis, e quais os que eles não apreciam. Algumas crianças gostam
de contato físico e de toques mais fortes, como quando são jogadas para cima e
depois agarradas no ar, por exemplo, mas outras ficam apavoradas com isso. Os
pais devem ser cuidadosos para não impor os seus padrões de toque amoroso aos
filhos, mas sim respeitar os gostos deles.
Todo tipo de
contato físico amoroso é importante para encher o estômago emocional das
crianças. Aquelas que não aprendem o toque amoroso tendem a ser violentas, a
desconfiar do toque dos demais e a buscar a sexualidade prematura no anseio
pelo toque prazeroso.
Quanto menor
a criança, tanto mais ela será aberta ao toque carinhoso. À medida que cresce,
os pais precisam adaptar o tempo de toque
aos seus novos gostos. Não existem normas para isso. Novamente, o padrão é
individual, e depende de cada criança e dos pais. De uma maneira geral, porém,
os meninos são mais defensivos do que as meninas. Mas isso não significa que
não necessitem de toque. Os pais que desistem de tocar seus filhos, apenas
porque eles algumas vezes se mostram defensivos e desagradados, estão cometendo
um grande erro. O que precisa ser feito é buscar qual o grau e forma de
interação física que agrada a ambos, e permanecer flexível para novas e novas
adaptações.
Quando os
meninos atingem a puberdade, especialmente, ao redor dos 12 ou 13 anos de
idade, tornam-se mais defensivos aos beijos e abraços, especialmente em público
e na frente dos amigos. Eles continuam necessitando desesperadamente de contato
físico amoroso regular, só que este contato deve agora assumir uma forma mais masculina e agressiva, como brincadeiras de briga, de rolar agarrados pelo chão
(luta romana, jiu-jitsu), lutas de boxe, caratê, “empurrões”, “tapas” nas
costas, choques de mão, abraços-de-urso, etc. Algumas vezes os meninos podem até
ser violentos demais nessas brincadeiras, a ponto de causar dor ao pai ou à (pobre!)
mãe! Mas os pais não devem se esquivar desses preciosos momentos, embora, é
claro, precisem orientar seus filhos quanto à força a ser empregada.
Em geral as meninas não se mostram tão
inquietas, quando pequenas, com a falta de toque amoroso dos pais. Parecem
permanecer mais tranqüilas, mesmo quando deixadas a sós. Porém, isso não
significa que não necessitem da atenção amorosa dos pais através do contato
visual e físico. Pelo contrário. Quando privadas disso, tenderão a apresentar
uma série de dificuldades na adolescência. Além disso, elas têm necessidade
imensa do olhar e do toque por volta dos onze aos treze anos de idade –
especialmente dos pais (homens). Ao contrário dos meninos, elas na puberdade
requerem uma dimensão adicional de demonstrações de carinho e afeto,
especialmente dos pais (homens).
Entretanto,
muitos pais (homens) tendem a se afastar das filhas quando elas entram na
puberdade. Eles se sentem pouco à vontade
diante do novo corpo da filha. Não sabem como se relacionar com elas em sua
nova condição de quase-mulheres. Vários pais que antes eram íntimos de
suas filhas, agora se afastam e podem até mostrar algum antagonismo. Isso pode
ser muito desestruturador para as filhas e muitas mulheres, na vida adulta,
recordam desse afastamento do pai como uma grande dor. Uma senhora, certa vez,
chegou a dizer que nunca tinha entendido por que seu pai, quando ela entrou na
adolescência, tinha se tornado seu inimigo!
Assim, é
fundamental que os pais do sexo masculino ajudem suas filhas a se sentirem
aceitas como mulheres, para que
possam enfrentar a adolescência e a vida adulta com serenidade e segurança.
Devem continuar dando a elas abundante contato visual e físico em seus críticos
anos de puberdade. Através desse contato
amoroso e não-sexuado com seus pais as meninas desenvolverão uma
importantíssima medida de conforto e aceitação pessoal. Muito do comportamento
abusivo, explosivo ou promíscuo de meninas adolescentes pode estar relacionado
com essa carência de demonstrações de afeto por parte de seus pais.
Em síntese, a
criança expressa de maneira não-verbal sua
angústia, sofrimento, medo ou insegurança através de comportamentos
desagradáveis. O melhor remédio, sempre, é assegurar-lhes o alimento do amor incondicional, com o olhar e o toque amorosos, como vimos
até aqui, e a atenção concentrada e a disciplina, como veremos nos próximos
capítulos.
Exercícios:
1.
Por que é importante o contato físico amoroso dos pais?
__________________________________________________________________________________
2.
O que poderá acontecer com as crianças que não
vivenciaram o toque amoroso?
__________________________________________________________________________________
3.
Qual o remédio para a criança que expressa angústia e
sofrimento?
__________________________________________________________________________________
4.
Relacione as atitudes essenciais para uma efetiva
comunicação do amor.
__________________________________________________________________________________
5.
Qual a regra fundamental da demonstração do amor
através do olhar e do toque?
__________________________________________________________________________________
6.
Conforme o estudo que acabou de fazer, reflita e
relacione abaixo atitudes na comunicação do amor que na sua vida diária você
considera positivas e conservará, e quais aquelas ainda não praticadas que você
inciará.
Conservará:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Iniciará:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
7. Qual
a contribuição do toque amoroso para uma criança:
a) no seu
desenvolvimento
físico:____________________________________________________
b) no seu campo emocional
_________________________________________________________
8. Cite
situações:
a) em que os pais realizaram toque exibicionista, excessivo,
etc:
________________________________________________________________________________
b) toque agradável, no tempo certo:
_____________________________________________________________________________
9.
O que significa educar as crianças com o coração e a vida. ? Por que a frase dá ênfase às meninas?
_____________________________________________________________________________
10. Represente
com seu grupo situações de comunicação do amor.
11. Escolha
dois textos daqueles citados em negrito e os memorize.
Notas e Bibliografia:
1. Campbell, Ross. Filhos
Felizes. Tradução Neyd Siqueira. São Paulo: Mundo Cristão, 1991.
2. Greenspan, Stanley. Filhos
Emocionalmente Saudáveis, Íntegros, Felizes, Inteligentes. Tradução de
Sérgio Teixeira. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
3. ‘Abdu’l-Bahá. Cit em: Educação Bahá’í, uma Compilação. Rio de
Janeiro: Bahá’í, 1981.
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