terça-feira, 30 de setembro de 2014

Educar por Inteiro - Cap. 12: Atividades que Promovem a Educação Ética


Capítulo  12
Atividades que Promovem a Educação Ética
Embora o que vimos até aqui nos pareça ser o mais essencial para o bom encaminhamento ético e moral das crianças, muitas vezes os pais ficam em dúvida sobre quais atividades podem desenvolver com seus filhos para estimulá-los no caminho do bem. Explorar em detalhes tais práticas pedagógicas foge do escopo desta obra, e deverá ser objeto de outro livro complementar. Mas fornecemos a seguir algumas dicas, que podem ajudar os pais em seus esforços.
Preceitos: estímulo, aconselhamento, orientação, explicação
Depois do exemplo, a prática pedagógica mais constante e fundamental para a educação ética são as palavras de orientação, de correção e de explicação sobre a conseqüência dos bons e dos maus atos. O bom comportamento deve ser encorajado e estimulado através de frases positivas e propositivas, do tipo: “A vovó fica feliz quando você dá um beijo nela! Quando a gente chegar, quero ver você dando um beijo bem gostoso nela!”, em vez de corrigir o negativo com reprimendas (“Que feio! Não cumprimentou a vovó!”).
Evite o “não”, solicitando o correto em vez de proibir o errado. Em vez de “Não pode jogar bola dentro de casa!”, diga “Bola só pode jogar no jardim!”; em vez de “Não pode comer se não lavar as mãos!”, prefira “Antes de comer é preciso lavar as mãos!”; ao invés de “Não quero que você vá lá!”, escolha “Quero que você fique aqui!”; em vez de “Pare de fazer bagunça!”, melhor seria “Quero que você fique quieto agora!”.
Os pais devem se acostumar a explicar porque os bons hábitos são solicitados, e, na primeira infância isso pode significar infinitas repetições: “Você só pode brincar longe do fogão, pois pode cair algo quente em você e machucar muito.”; “Agora vamos lavar as mãos para comer, para tirar os micróbios que podem fazer mal!”; “O sofá pode estragar se você ficar pulando nele, por isso quero que você fique sentado.”; “Assim como precisamos de comida para o corpo ficar forte, precisamos da oração para fortalecer a alma”. Dê explicações baseadas na realidade, mesmo para crianças pequenas, e não na fantasia, do tipo “senão o homem do saco te pega!”.
A vida oferece infinitos momentos educacionais, quando uma palavra de estímulo, orientação e explicação pode fazer a diferença entre aprender uma lição moral ou não. Mas para isso os pais devem estar atentos e usar as situações do dia-a-dia para o ensino do bom comportamento. E a instrução precisa sempre ser sustentada pelo exemplo, pois não podemos esquecer que a educação ética deriva muito mais da imitação e da adoção dos valores do lar e da escola, do que de preceitos morais.
Provérbios, fábulas, histórias e relatos
Os seres humanos, principalmente as crianças, adoram histórias. Histórias que exemplifiquem e elogiem as virtudes são importantes instrumentos para a educação para o bem. Elas oferecem poderosas referências nas quais a consciência pode se apoiar quando busca o caminho certo a ser seguido no dia-a-dia.
Todo tipo de história vale para a reflexão sobre a importância das virtudes. Parábolas, histórias e relatos religiosos têm guiado a humanidade em todos os tempos, oferecendo vívidos exemplos do bem e do mal na vida. Existem vários livros de histórias bíblicas para crianças que podem ajudar os pais nessa tarefa.
As fábulas são outra fonte inesgotável de prazer e ensinamentos. As de Esopo, de La Fontaine, da Carochinha, de Florian e de Monteiro Lobato servem muito bem a este propósito. Elas podem ser encontradas em livros, ou mesmo na internet, para download. Duas belas coletâneas de histórias dessa natureza foram feitas por William J. Bennett e podem ser encontradas em português, inclusive em formato ilustrado. Abaixo oferecemos algumas dicas de livros e sites da Internet que os pais podem utilizar.
Os provérbios (“gato escaldado tem medo de água fria”), ditos populares (“a vida é dura pra quem é mole”), imagens (“tapar o sol com a peneira”) e comparações (“fumar como uma chaminé”) também têm poder na educação moral. Eles comunicam um significado de forma imaginativa e emocional que toca profundamente a consciência. Apóiam-se em imagens para transmitir máximas com ares de verdade absoluta. Podem ser muito úteis e dão um colorido especial à comunicação quando utilizadas regularmente. Nem sempre expressam sentimentos nobres, por isso devemos ser criteriosos na escolha daqueles que orientam para o bem.
Afirmações Positivas
Afirmações são frases positivas ou negativas, pensadas ou faladas, a respeito do que somos ou do que podemos ser e vivenciar. Frases como “Eu sei ser paciente e calmo.”, ou “Eu posso ser organizado.”, ou “Eu sou digno de amor e amizade.”, são afirmações positivas.
O mau comportamento está associado aos maus sentimentos, e estes geralmente derivam de convicções negativas a respeito de nós mesmos e dos outros. Durante o dia todo, ou mesmo a vida toda, somos bombardeados por pensamentos negativos ─ as afirmações negativas ─ do tipo: “Eu não faço nada direito mesmo!”, “Como sou atrapalhado!”, “Estou muito cansado!”, “Não consigo!”, etc. Muitas vezes estas depreciações são ecos de condenações ouvidas na infância, do tipo “Narigudo!”, “Exibido!”, “Nervosinho!”, etc.
As afirmações atuam no nosso inconsciente, e ele tem poder formativo em nossas vidas. Está por trás de praticamente todas as escolhas mais significativas que fazemos, para o bem ou para o mau, para nossa vantagem ou desvantagem. Por isso, as afirmações positivas são importantes para harmonizar nossas crenças mais profundas com o potencial de plenitude e beleza que já existe dentro de nós. Elas servem como antídoto para as críticas e condenações que fazemos a nós mesmos, ou que aceitamos dos outros, e nos ajudam a provocar as mudanças que desejamos.
Quase tudo que desejamos mudar em nós mesmos pode ser alcançado através de afirmações. E ajudar a criança a desenvolver este hábito saudável de pensar bem sobre si mesma é uma ajuda preciosa para seu desenvolvimento ético e moral. Mas devemos primeiro ser capazes de fazer este bem a nós mesmos, para então podermos ensinar as crianças.
As afirmações positivas atuam melhor quando usadas em momentos mais relaxados, como ao deitar-se, ao acordar, ou durante momentos de relaxamento e meditação. Podemos usá-las regularmente com nossos filhos ao colocá-los para dormir, aproveitando os momentos mágicos de aconchego e carinho para ensiná-los a repetir as afirmações. Elas funcionam especialmente bem com crianças pequenas, pois elas ainda não estão contaminadas com auto-imagem negativa. E as mais poderosas são justamente aquelas afirmações que promovem a auto-estima.
Você pode redigir um conjunto de afirmações para você e para seus filhos, e colocá-las em prática, como um exercício espiritual, durante vários dias, alternando as afirmações conforme a necessidade e as circunstâncias. A repetição de uma afirmação aumenta seu poder e sua eficácia.
As afirmações precisam ser bem pessoais, por isso devemos iniciá-las por “Eu”, ou “Meu/Minha”, ou pelo nome (que é uma forma bem adequada de ensinar afirmações a crianças pequenas que ainda se referem a si mesmas pelo próprio nome em vez de dizerem “eu”). “Eu sou...”, ou “Andréia é...” é uma forma poderosa, assim como “Eu posso...”, “Andréia pode...”.
Elas devem ser formuladas como se a mudança que desejamos já fosse realidade, pois se afirmarmos coisas no futuro, em vez do presente, do tipo: “Eu vou ser mais paciente.”, ou “Eu vou conseguir me controlar.”, o inconsciente vai sempre remeter a mudança para o futuro, e ela nunca virá! A afirmação deve indicar que o resultado já foi alcançado, e não que ainda está por vir.
Devemos usar sempre frases que digam o que queremos ser e não o que não queremos ser. Em vez de “Eu não critico as crianças!”, diga “Eu encorajo as crianças”. Não use as afirmações para comparações, como “Eu posso dançar tão bem quanto a Janete.” Concentre-se em você mesmo: “Eu posso dançar bem.”
Cada momento da vida pode exigir uma ou mais afirmações positivas diferentes. A chave é identificar o que está incomodando e criar uma ou mais afirmações para enfrentar a deficiência. Repita a afirmação várias vezes por dia, com sentimentos de alegria e confiança. Quanto mais emoção genuína você colocar na afirmação, melhor.
O mesmo procedimento descrito acima se aplica às crianças. Você identifica os objetivos educacionais que tem em vista – como ajudar a criança a ser mais paciente, mais gentil, mais corajosa, etc – e cria afirmações apropriadas, pedindo que a criança a repita na hora de dormir, ou nos momentos educacionais apropriados, que geralmente são justo aqueles quando ela fraqueja na qualidade ou virtude que precisa ser desenvolvida.
Exemplos de afirmações positivas: “Sou grato à vida e gosto de comemorar o bem que há nela.” “Eu posso controlar meus sentimentos através de meus pensamentos, palavras e ações.” “Eu posso perdoar e ser gentil com quem me maltratou.” “Eu olho para o lado bom das pessoas e de todas as coisas.” “Eu sei comer sem sujar a mesa.” “Alexandre sabe arrumar seu quarto.” “André gosta de ler.”
Oração e intercessão pelas crianças
Por milhares de anos, a oração tem sido considerada um instrumento essencial para o progresso e a proteção espiritual. Krishna, Buda, Zoroastro, Moisés, Jesus, Maomé, o Báb e Bahá’u’lláh ─ profetas de cujos ensinamentos temos registros escritos ─, todos ensinaram a importância da oração. No século XX, vários estudos se dedicaram a comprovar cientificamente o poder da oração e seus resultados foram muito extraordinários. As pesquisas provaram, por exemplo, que pacientes hospitalizados que recebem orações para sua cura têm cinco vezes menos complicações infecciosas e uma incidência três vezes menor de edema pulmonar.[1]
Assim, crie o hábito de interceder por seus filhos em oração, pedindo a Deus que os proteja, guarde e abençoe. Não é necessário que a oração seja formal, elaborada e complexa. Simplesmente converse com Deus como se estivesse conversando com um querido amigo, e expresse seus sentimentos e suas solicitações.
É importante aprender a entregar a Deus uma medida do destino de nossos filhos, mas isso não significa abandoná-los. Em uma palestra uma vez um pai me disse: “Eu desisti. Não sei mais o que fazer com meu filho, por isso entreguei-o a Deus!”. Respondi a ele que entendia seu sofrimento e desespero, mas que a coisa era o inverso: Deus é quem tinha entregado o filho a ele para criar, e que não aceitava devolução. A missão dos pais de guiar e educar os filhos é sagrada por natureza. Se não souberem como fazê-lo, devem procurar aprender; se estiverem perdidos, devem buscar orientação; se estiverem cansados, devem buscar ajuda. Mas não podem desistir. Nunca. A felicidade dos filhos e deles próprios depende disso.
Exercícios:
1.     Transforme as seguintes instruções negativas em preceitos positivos, dizendo o que fazer e não o que não fazer:
a) “Não quero que você minta mais!”: 
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b) “Não quero que você grite com seu irmão!” 
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b) “Não pode mexer nas coisas que estão na prateleira!” 
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b) “Não pode sair de perto da mamãe!” 
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2.     Relacione alguns ditados ou provérbios que lhe parecem ter valor para a educação moral das crianças.
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3.     Liste os comportamentos ou atitudes de seu filho que você mais deseja ver melhorados. Então crie afirmações que possa ensinar a ele para cada uma das situações, e utilize-as nos momentos adequados.
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4.     Comente com o grupo experiências positivas, suas ou de outrem, com a oração de intercessão pelos filhos.
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Sites na Internet
Os seguintes sites podem ajudar no recolhimento de material e idéias para ajudar no processo de educação ética.
www.animamundi.org.br: encaminha para importantes sites na área da educação, cultura, religião e ciência. Especialmente interessantes os links para sites que oferecem citações, provérbios e histórias.
http://sitededicas.uol.com.br/cfolc.html: fábulas e contos do folclore brasileiro, por região do país, contos da Carochinha, de La Fontaine, Esopo, entre outros, para pesquisa ou download.
http://www.educacional.com.br: fábulas e contos, inclusive com animação. Exige cadastramento prévio.
http://www.mundocaipira.com.br/folclore/5.asp#proverbios: provérbios, travalínguas e adivinhações da cultura brasileira.
http://www.educacaomoral.hpg.ig.com.br/conta/conta.htm: histórias de fundo moral, num site dedicado à educação moral.
http://www.metaforas.com.br/inicial.html: inúmeras histórias e fábulas com ensinamentos morais. Pode-se pesquisar as histórias por palavra-chave, como paciência, bondade, etc.
http://www.portaldafamilia.org/sccurious/pf_curious.shtml: na seção variedades do portaldafamilia.org, você encontra várias histórias adequadas, além de o portal ser uma fonte de orientação muito boa.
http://www1.uol.com.br/criancas: histórias e fábulas animadas de autores clássicos e modernos.
http://www.emack.com.br/info/download/wsites.php: oferece comentários sobre websites dedicados às crianças. Fonte de idéias e jogos, mais do que histórias, mas muito bem montado e útil.

Livros:
O melhor é ir a uma boa livraria e pedir pelos livros de educação infantil, histórias e fábulas, e então escolher aqueles com os quais simpatizar mais. Peça por autores clássicos, como La Fontaine, Esopo, Florian, além das histórias da Carochinha e de Monteiro Lobato.
Duas obras de fundamental importância, pelo volume e diversidade de material recolhido são os dois volumes de “O Livro das Virtudes”, de William J. Bennett, publicados no Brasil pela Editora Nova Fronteira.
            Nos seguintes sites você também encontra listas de livros úteis para trabalhar com a criança.
http://www.educacao.gov.br/sef/leitura.shtm: oferece uma lista de livros de contos e histórias infantis selecionados para o projeto “Literatura em Minha Casa” do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), além de dicas de como contar histórias.
http://www.netds.com.br/kids: oferece dicas de literatura infantil e infanto-juvenil.



[1] Várias destas pesquisas e suas fontes estão apresentadas em: Laszlo, Ervin. The Connectivity Hypothesis: Foundations of an Integral Science of Quantum, Cosmos, Life, and Consciousness. New York: State University of New York Press, 2003.

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