terça-feira, 30 de setembro de 2014

Educar por Inteiro - Cap. 1: A Missão Sagrada dos Pais





Educar por Inteiro
Capacitação de Pais e Educadores
para uma Cultura de Paz

























Luis Henrique Beust
Presidência da República – Secretaria Especial de Direitos Humanos
ONU – Fundo de População das Nações Unidas
2003















Educar por Inteiro
Capacitação de Pais e Educadores
para uma Cultura de Paz





Sumário

Capítulo 1 ─  A Missão Sagrada dos Pais
Capítulo 2 ─  A Magia do Olhar Carinhoso
Capítulo 3 ─  O Poder do Toque Amoroso
Capítulo 4 ─  Atenção Concentrada: a Maior Necessidade das
Crianças
Capítulo 5 ─  A Atenção Concentrada a Partir do Primeiro Ano
Capítulo 6 ─  Disciplina: o Futuro dos Filhos é um Reflexo do Lar
Capítulo 7 ─  A Disciplina que Dá Certo
Capítulo 8 ─  Os Fundamentos da Formação do Caráter
Capítulo 9 ─  As Três Esferas da Educação
Capítulo 10 ─  Educação para a Ética e os Valores Humanos
Capítulo 11 ─  Princípios da Educação Ética
Capítulo 12 -  Atividades que Promovem a Educação Ética







Capítulo  1
A Missão Sagrada dos Pais
As Duas Pessoas Mais Importantes no Mundo
Há cerca de seis bilhões de seres humanos sobre a face da terra que podem ser, para nossos filhos, seus melhores amigos, parceiros, colegas, namorados, mestres e companheiros de caminhada... Mas apenas dois podem ser seus pais. E estes são, potencialmente, os dois mais importantes seres humanos em suas vidas.
Text Box: “O princípio importante concernente ao desenvolvimento da afeição é que o indivíduo precisa ser amado para aprender a amar. Em geral, o amor da mãe é incondicional; ela ama o bebê porque é seu filho. Ama-o pelo que ele é.”
Justin Pikunas1
O pai e a mãe são as duas pessoas que maior influência terão sobre o desenvolvimento e a formação da criança. Essa influência se dá tanto pela carga genética que transmitem a ela, como pela forma como a amam, educam e cuidam dela. Mas aqui é necessário fazer, logo de início, uma observação fundamental: há dois tipos de paternidade e de maternidade. Há os pais biológicos ─ aqueles que dão origem à existência física do ser humano ─ e há os pais de criação ─ os que amam, educam e cuidam da criança.
Idealmente, os pais biológicos serão também os que criarão a criança, conduzindo-a pelas diversas fases de seu desenvolvimento e amadurecimento. Mas nem sempre isso acontece. Algumas vezes os pais biológicos terão pouca ou nenhuma relação com seus filhos, cabendo a outros o papel de pais de criação. Ou pode ser que apenas a mãe, ou o pai, tenha que se encarregar desta incumbência.
Embora a influência genética não possa ser descartada (como veremos no capítulo 8), é a criação que tem maior peso sobre o desenvolvimento das crianças. Havendo um útero, uma criança pode ser gerada a partir de um óvulo e um espermatozóide qualquer. Mas nada, nada mesmo, pode substituir o amor, o cuidado e a educação que cada criança precisa receber para que possa se desenvolver da melhor forma possível.
Alguns chamam os pais de criação de cuidadores, ou tutores, da criança. Porém, pensamos que toda criança merece ter alguém a quem possa chamar de pai e de mãe. E um homem e uma mulher que provêm amor, cuidado e educação para uma criança merecem ser chamados de pai e de mãe.  Portanto, nesta obra, sempre que usarmos a palavra pai e mãe (ou pais, quando nos referirmos a ambos), estaremos entendendo, prioritariamente, os pais de criação, sejam eles os pais biológicos ou não. Na verdade, apenas quem ama, cuida e educa merece ser chamado assim.
Assim como cada criança necessita de um pai e uma mãe para ser gerada, a boa educação exige dois progenitores: amor e sabedoria. Geralmente, o amor é algo que acompanha naturalmente o nascimento dos filhos. Pode ser considerado uma bênção gratuita. A sabedoria, ao contrário, precisa ser adquirida através da observação, da informação, da dedicação, da intuição, do diálogo, da empatia, do estudo e da meditação. Também é uma bênção, mas nasce de nosso esforço e empenho.
Vale lembrar, porém, que não há sabedoria que nasça sem amor. O amor é a raiz da árvore; a  sabedoria é o tronco. Por isso, os pais precisam garantir que seu amor pelos filhos seja sempre renovado a cada novo estágio de desenvolvimento das crianças, cada qual com seus desafios, alegrias, perigos e gratificações característicos. É esse amor que garante a mobilização das forças necessárias para a aquisição da sabedoria e para a construção de um relacionamento pleno de satisfação e significado.
Exercícios:
1.     Quais os dois progenitores da boa educação?
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2.     Quais alguns dos elementos dos quais nasce a sabedoria? Analise cada um deles com o grupo, procurando exemplos de sua manifestação na vida do dia-a-dia.
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3.     (Complete) “Não há ____________ que nasça sem amor. O amor é a ___________ da árvore; a ___________ é o ____________”.
4.     Comente com o grupo suas idéias sobre a influência dos pais biológicos e dos pais de criação na vida de uma criança.

O Contexto do Amor entre Pais e Filhos
Nosso relacionamento amoroso com nossos filhos não se dá num vazio. Ele nasce, juntamente com nossas crianças, no contexto de todos os nossos relacionamentos afetivos: com nossos pais, com nossos cônjuges e parceiros, com amigos e colegas, com nossa cultura, nossa pátria, raça, religião, e também conosco mesmos.
O amor por nossos filhos, e deles por nós, é como descobrir um novo continente. Um continente a ser explorado, conhecido e habitado, com todas as suas maravilhas e desafios, riquezas e perigos, montanhas e planícies, desertos e mares... Este novo continente passará a fazer parte do mundo que já conhecemos e com o qual estávamos acostumados.
Justamente por não se dar num vazio existencial, o amor entre pais e filhos, apesar de especial e inigualável (como qualquer continente), faz parte de um conjunto maior de relações, sendo, desde o início, profundamente afetado por todo o contexto ao seu redor. Assim como a América, a partir do descobrimento, passou a ter um intercâmbio cada vez maior com a Europa, a África e a Ásia, da mesma forma será a relação com nossos filhos. Ela passará a ser cada vez mais influenciada pela realidade de nossas vidas no seu contexto maior. A América, no começo, era mais influenciada do que influenciava o resto do mundo. Da mesma forma, nossos filhos, a princípio, serão mais influenciados do que influenciarão o restante de nossas vidas. Porém, da mesma forma que a América, ao se desenvolver, passou a afetar e influenciar cada vez mais os outros continentes, nossas crianças, à medida que crescem e passam a expressar de forma mais completa e madura suas personalidades, cada vez mais afetarão nossas vidas em seus múltiplos aspectos.
O surgimento dos filhos em nossa vida oferece uma série de oportunidades para reavaliar e reconstruir nossos relacionamentos conosco e com o mundo ao nosso redor. Nesse sentido, nossos filhos serão nossos mestres, com importantes e inesquecíveis lições sobre a condição humana, suas maravilhas e dores, suas vitórias e frustrações. Nossos pais nos educam por dezoito, vinte anos. Mas nossos filhos nos educarão por quarenta, cinqüenta... Eles nos ensinarão a sermos pais de bebês, pais de crianças, pais de adolescentes, sogros e sogras e avós. E, nesse processo, geralmente nos ensinam também a sermos melhores filhos, melhores cônjuges, melhores amigos e melhores seres humanos.
Na convivência com nossos filhos, temos a oportunidade de testemunhar e reviver, numa dimensão muito profunda, nossa própria infância. Aquela infância da qual geralmente não temos nenhuma ou pouca memória, mas que deixou em nós marcas profundas e que definiu muito do que somos. E, ao longo dos anos, vamos encontrando na vida de nossos filhos os paralelos com a nossa própria vida, as semelhanças e diferenças, e, nessa medida, reescrevendo nossa própria história, com novas perspectivas, entendimentos e emoções.
Com nossos filhos, em formas não-verbais e em dimensões quase que incomunicáveis:
a.     passamos a compreender melhor a maravilha e o desafio da interação com o próximo, através da relação com nossas crianças que, mesmo quando nascidas de nós, têm identidades, características e vontades próprias. Assim, aprendemos a respeitar mais a alteridade[1], a individualidade, as características e as vontades de cônjuges, parentes, parceiros, amigos e das pessoas em geral;
b.     podemos compreender melhor nossa própria fragilidade, através da fragilidade e dependência de nossos filhos, e, assim, aprendemos a encontrar dimensões de compaixão para conosco mesmos, para com eles e para com o mundo ao redor;
c.     podemos compreender melhor nossas próprias vitórias, através das lutas de nossos filhos por crescer e se integrar no mundo, e, assim, aprendemos a ter mais respeito e admiração por nós mesmos, por eles, e por todos à nossa volta;
d.     passamos a compreender melhor nosso despreparo e insegurança na educação dos filhos, através dos desafios constantes que eles nos apresentam, e, assim, aprendemos a valorizar nossos poderes inatos de amor e sabedoria, e a ser mais justos e compassivos conosco mesmos e, principalmente, com nossos pais.
Text Box: “A indiferença materna e até mesmo a hostilidade são estimuladas por falta de felicidade ou ajustamento no casamento.”
Justin Pikunas2
Justamente porque a relação com nossos filhos será influenciada pela qualidade de todas as nossas outras relações, deveríamos aproveitar o seu nascimento para procurar analisar, diagnosticar e, na medida do possível, tratar, curar e harmonizar todos os demais laços: com o cônjuge, os pais, os irmãos, parentes, amigos, etc. Ao fazermos isso, estaremos, de forma natural, dinâmica e sutil, atuando também sobre a qualidade do relacionamento com nossos filhos.
Para amadurecer nossas relações afetivas em geral, precisamos desenvolver a habilidade de aceitar as pessoas como elas são, conscientes de seus defeitos e dons, e sendo capazes de valorizar mais o que elas têm de bom do que seus defeitos. A aceitação da ambigüidade, da imperfeição inerente à condição humana, e o abandono da idealização como muleta da admiração e do amor, é uma demonstração de maturidade e sabedoria. Quando abandonamos a exigência de que as pessoas sejam como desejaríamos que fossem, aprendemos a amar mais e melhor. Podemos separar as pessoas de seus atos. Somos então capazes de respeitar e mesmo amar as pessoas, apesar de não aprovarmos, ou mesmo de detestarmos, alguns de seus atos ou atitudes.
E, nesse sentido, outra vez, nossos filhos podem ser nossos mestres, pois com eles aprenderemos muito do amor incondicional, que é sua maior necessidade, e a de todos os seres humanos.
Dentre as relações, a que estabelecemos com o cônjuge é de extrema importância para definir o clima geral de como lidamos com as crianças. Ela é a mais importante relação dentro da família. Quando o clima entre o casal é amoroso e positivo, ele transbordará para os filhos de maneira natural, na forma de amor, amparo, cuidado, atenção e disciplina adequados. Ambos os pais encontrarão satisfação e encantamento mútuos no trato com a criança. A relação de afeto de cada um com o filho tenderá a reforçar a relação de afeto entre eles, e vice-versa.
Fica muito mais difícil quando a relação conjugal não é boa. A tendência, nesses casos, é que as crianças se tornem:
a.     bodes-expiatórios do conflito entre os pais, recebendo muito da agressividade, do desrespeito, da desatenção e do desamor que um parceiro sente pelo outro.
b.     pomos-da-discórdia, quando as crianças são usadas para intensificar os ataques mútuos, quando os pais discordam frontalmente com relação a aspectos como a disciplina, aparência e comportamento da criança. Ou quando cada um dos pais tenta conquistar para si uma medida maior do amor do filho, às custas do cônjuge;
c.     tábuas-de-salvação, quando cada um dos pais, por carência de afeto e amor na relação conjugal, busca fazer do filho um companheiro e obter dele o afeto, consolo e apoio que deveria receber do cônjuge. O filho se torna um provedor de afeto, sendo levado a cuidar do bem-estar emocional do pai ou da mãe, em vez de ser cuidado por eles. Nesses casos, os pais tendem a ser excessivamente indulgentes, protetores, íntimos e dependentes com relação aos filhos.
Exercícios:
1.     Explique a metáfora que compara o nascimento dos filhos com a descoberta de um novo continente.
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2.     Por que o texto afirma que nossos filhos podem ser nossos mestres? O que eles nos ensinam?
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3.     Qual a relação mais importante dentro da família?
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4.     De que forma a desarmonia conjugal pode afetar a relação dos pais com as crianças?
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5.     Com relação ao texto abaixo, discuta com o seu grupo as frases grifadas:
“O princípio importante concernente ao desenvolvimento da afeição é que o indivíduo precisa ser amado para aprender a amar. Em geral, o amor da mãe é incondicional; ela ama o bebê porque é seu filho. Ama-o pelo que ele é. Todavia, as exceções não são infreqüentes. A indiferença materna e até mesmo a hostilidade são estimuladas por falta de felicidade ou ajustamento no casamento.” (Justin Pikunas3)

A Natureza do Amor entre Pais e Filhos
Quando uma criança nasce, ela geralmente recebe o melhor que um ser humano pode dar: amor incondicional. Ela é amada apenas por ter nascido. Apenas por ser o que é: um filhote de homem, cheio de potencialidades maravilhosas. Ao contrário dos animais, que nascem com uma carga instintual marcante, que os capacita a sobreviver sozinhos no seu meio-ambiente depois de algumas horas, ou, no máximo, dias ou semanas, os filhos dos homens são totalmente indefesos e necessitam do cuidado dos pais por longos anos. Uma criança é o mais indefeso ser sobre a face da terra. E o amor incondicional dos pais é a maior garantia de que ela poderá crescer e se desenvolver de maneira saudável e feliz.
Text Box: “O amor incondicional pode ser considerado como um guia para a educação dos filhos. Sem ele, os pais irão caminhar no escuro sem qualquer indicação que lhes diga onde estão ou o que fazer com respeito ao filho. Com ele, possuímos indicadores de onde estamos, onde a criança se encontra e o que fazer em todas as áreas, inclusive a da disciplina.”
Ross Campbell4
            Amor incondicional significa estimar, respeitar, valorizar e apreciar nossos filhos independentemente de sua aparência, seus talentos, suas capacidades, suas fraquezas, deficiências ou falhas. E, principalmente, amá-los mesmo que muitas vezes seu comportamento seja inadequado ou desagradável! Mesmo que nem sempre nosso amor seja correspondido como gostaríamos.
O amor incondicional dos pais pode, na ausência de qualquer outra guia ou orientação, conduzir tanto os pais quanto as crianças para um porto seguro, apesar das mais graves tempestades emocionais. Existe, dentro de cada mãe e pai, um reservatório inato de sabedoria que é mobilizado pelas forças do amor incondicional. Da mesma forma, existe nas crianças uma capacidade inata de apresentar aos pais sinalizações e dicas de como precisam ser cuidadas, quando o amor incondicional é o alicerce da relação.
Embora o amor incondicional seja quase automático ao nascer a criança, ele precisa ser aprendido e cultivado para que se torne pleno. Precisamos desenvolvê-lo de forma constante para que permaneça a base de nossa relação com os filhos ao longo de toda a sua vida. E cuidar para que o trabalho e os sacrifícios naturais na criação dos filhos não encubram este amor essencial. Para isso, devemos procurar nos lembrar dos seguintes pontos:
a.     A maior necessidade de nossos filhos, para que possam se desenvolver adequadamente é o amor da mãe e do pai. Este é o fundamento sobre o qual todo o desenvolvimento infantil repousa. Quanto mais e melhor uma criança for amada, melhor será seu desenvolvimento em todos os sentidos.
b.     Nossos filhos já nascem com uma personalidade com a qual teremos que interagir. Eles, apesar de pequenos, ignorantes e indefesos, não podem ser tudo o que queremos que sejam, pois já são, em grande medida, eles mesmos, com características próprias, que podem ser aprimoradas, moldadas e lapidadas, mas não modificadas totalmente. Tendo isso em mente, nós pais precisamos desenvolver a capacidade de escutar os filhos, de entendê-los e respeitá-los. Esse tema será estudado no capítulo 8 Fundamentos da Formação do Caráter.
c.     Nossos filhos não são maduros nem independentes o suficiente para nos tratar como gostaríamos de ser tratados, nem para nos compreender como adultos. Por isso precisamos compensar essa sua fraqueza sendo especialmente compreensivos e pacientes. Nós pais devemos ser os iniciadores e os provedores do respeito e do amor, mesmo que a criança não tenha capacidade de agir da mesma maneira. Não devemos esperar recompensas ou manifestações de agradecimento, nem mesmo reciprocidade ou apreciação da parte delas. Precisamos nos sentir responsáveis por iniciar e manter a relação amorosa apesar de todas as dificuldades e incompreensões.
d.     Crianças são como espelhos: elas refletem, mas não iniciam o amor. Se recebem amor, retribuem. O amor incondicional é refletido incondicionalmente e o condicional, condicionalmente. As crianças precisam ser amadas pelo que são, não pelo que fazem. Se forem amadas apenas quando fazem o que os pais desejam, irão comportar-se como os pais desejam apenas para conseguir o que querem.
e.     Não podemos mudar a natureza da criança, por isso, é fundamental mudar a natureza da relação da mãe e do pai com a criança. Essa relação precisa ser o mais respeitosa, harmoniosa e plena de amor possível.
f.      Text Box: “A criança não deve ser oprimida ou censurada por estar pouco desenvolvida. Ela deve ser pacientemente educada.”
‘Abdu’l-Bahá5
Por mais óbvio que isso pareça, precisamos nos lembrar sempre que as crianças são crianças; que elas agem como crianças; e que grande parte do comportamento infantil incomoda os adultos. Também entender que, não importa o que a criança faça, ela se comporta daquela maneira, muitas vezes perigosa ou desagradável, porque está testando como é que o mundo funciona, inclusive seus perigos e limites. Geralmente, a criança acha que seus comportamentos estão certos e leva muitos anos, através da amorosa disciplina dos pais, para se convencer de que alguns deles não estão.
g.     O amor incondicional capacita a criança a abandonar o comportamento desagradável, pois quando se assegura de que ela é amada, mas alguns de seus comportamentos não, então consegue abandonar aqueles comportamentos que desagradam aos pais. Ela aprende a se separar dos maus comportamentos porque os pais não a confundem com eles. Desta forma, pode e deve haver amor incondicional pela criança em todos os tempos, bem como recompensa e punição aos atos da criança, conforme estudaremos no capítulo 6, Disciplina: o Futuro dos Filhos é um Reflexo do Lar.
h.     O amor condicional gera insegurança, baixa auto-estima e dificulta, se não impede, o progresso no autocontrole e amadurecimento da criança.
Exercícios:
1.     Como seu filho expressa amor?
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2.     Qual é o amor ideal que deve servir de base para a educação e disciplina das crianças?
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3.      O que geram o amor condicional e o amor incondicional?
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4.     “A criança não deve ser _________ ou ________ por estar pouco desenvolvida. Ela deve ser ______________ educada”.
5.      Por que as crianças refletem como o espelho?
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6.     Cite algumas situações em que a criança refletiu o amor incondicional:
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A Principal Dinâmica do Amor entre Pais e Filhos
A principal qualidade do amor entre pais e filhos, e a principal necessidade da criança, é a atenção constante e a empatia dos pais às suas necessidades, características e desenvolvimento. Estudaremos mais em detalhes esta dimensão do amor dos pais, a atenção concentrada, nos capítulos 4 e 5. Mas é importante, já agora, ressaltar este fato.
O que dá coerência e significado a todas as múltiplas dimensões do desenvolvimento infantil é o contínuo relacionamento amoroso com os adultos significativos ao seu redor. O desenvolvimento de uma criança é muito complexo. Ele tem aspectos físicos, intelectuais, sociais, emocionais, morais e espirituais. E o melhor desenvolvimento infantil não se dá pela aplicação, por parte dos pais e educadores, de uma sucessão de regras e normas de conduta. Tudo o que a criança necessita para se desenvolver adequadamente não custa nada, pois este elemento vital não é outra coisa senão a presença amorosa dos pais em sua vida (lembrando sempre que, para nós, pais são aqueles adultos provedores de amor e cuidado).
            A principal capacidade a ser descoberta pelos pais e empregada por eles na criação de seus filhos é a empatia. A habilidade de continuamente adaptar suas emoções, atitudes e forma de agir às características e reações de seus filhos. Essa capacidade já existe, potencialmente, dentro deles, e, com confiança em seus dons naturais, poderão garantir o sucesso de seus esforços educacionais, desde que o amor seja a base do relacionamento. É a construção de um permanente diálogo não-verbal com a criança, em que ela mesma nos ajuda a identificar o que mais necessita para seu bom desenvolvimento, a melhor garantia da boa paternidade.
            As crianças são mais educadas pelo que sentem e vêem do que pelo que escutam ou obedecem. Por isso, não se preocupe por seu filho não dar atenção ao que você diz. Preocupe-Text Box: “... a maioria dos variáveis dons intelectuais e sociais de uma criança, inclusive sua criatividade e sua capacidade de raciocínio abstrato, não somente estão inter-relacionados, mas também repousam sobre alicerces comuns que, surpreendentemente, envolvem as emoções.”
Stanley Greenspan6
se por ele observar tudo e como você faz! Por perceber tudo o que você sente! Tenha sempre em mente que a criança é incrivelmente sensível aos sentimentos, atos e reações de seus pais.
a.     As crianças são, acima de tudo, educadas pelas emoções. Antes de compreender qualquer coisa do mundo as crianças já são capazes de perceber as emoções da mãe, do pai e das outras pessoas com quem interagem constantemente, reagindo a elas. Quanto mais essas emoções forem positivas, plenas de amor, aceitação, confiança e encorajamento, tanto melhor será o desenvolvimento da criança, seja físico, intelectual, moral e espiritual.
b.     A criança é profundamente influenciada pelos padrões emocionais que estão por trás do comportamento dos pais. Mesmo que não consiga compreender o significado adulto dos humores e comportamentos deles, ela detecta a qualidade básica das emoções e reage a ela. Por isso, entenda que sua criança será educada muito mais pelas emoções que ela identifica em suas palavras ou ações, do que pelas coisas que você faz ou diz.
c.     Devido a este fato, tenha cuidado com a maneira como você se relaciona com as pessoas, como lida com situações difíceis ou expressa seus sentimentos na frente das crianças. Elas sempre captarão a energia emocional básica que emana nesses momentos, e serão guiadas por ela. Procure, assim, administrar da maneira mais positiva possível sua vida, e isso, por si só, será o mais importante fator educacional para seus filhos. Isso significa, acima de tudo, desenvolver virtudes e capacidades espirituais como a paciência, o perdão, a compaixão, o amor, a bondade, a resignação, a perseverança, o otimismo e a fé. Quanto mais estes valores forem reais na sua própria vida, mais eles se manifestarão na vida de seus filhos.
d.     Justamente devido a essa extrema sensibilidade às emoções básicas, a criança consegue detectar facilmente quando alguém não está sendo verdadeiro. E essa dissimulação é profundamente perturbadora para a criança. Por isso, procure sempre ser honesto e sincero com relação a seus humores e comportamentos. É preferível dizer “A mamãe está muito zangada!”, ou “muito triste”, quando ela a vê agitada ou chorosa, ao invés de “Não é nada. A mamãe está bem!”. A criança sabe que a mamãe não está bem, e, a falta de sinceridade apenas torna o mundo, que para ela já é confuso, um mistério indecifrável e incompreensível.
e.     Por isso, nunca negue, para sua criança, ou para outros na presença dela, aquilo que ela sabe. Seja sempre honesto, pois isso será útil tanto para você quanto para sua criança. A honestidade emocional dos pais autoriza a criança a ser honesta com seus próprios sentimentos, e a não ter vergonha deles, ou a sentir culpa deles. Se a mamãe “está muito nervosa (ou irritada, ou triste, ou com medo), mas isso vai passar!”, essa lição é muito mais proveitosa para a criança do que “a mamãe não tem nada não, não se preocupe!”.
f.      As crianças ficam mais calmas quando reconhecemos suas dores e sofrimentos e não quando os acobertamos ou negamos. Por isso, não tente acalmá-la, após uma queda, dizendo: “Não foi nada!”, ou “Não faça manha!” ou “Não pode estar doendo tanto!”. Abrace a criança, reconheça sua dor “Puxa! Deve estar doendo mesmo, né?!”, e acalme-a com afirmações positivas do tipo “Já vai passar!”, “Vamos cuidar disso logo para diminuir a dor!”, etc.
g.     No médico, hospital ou centro de saúde, não a engane dizendo “Não vai doer nadinha!”, quando é possível que doa. As crianças que forem assim enganadas ficam ainda mais assustadas, pois, se a mamãe disse que não ia doer, mas está doendo, é porque alguma coisa está errada!
Exercícios:
1.     O que é empatia? Como aplicá-la na educação dos filhos?
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2.     Levando em conta o capítulo estudado:
a.  A que conclusão você chega do seguinte ditado: “Faça o que digo, mas não o que eu faço”. Comente com o grupo.
b.  Cite situações em que foi colocado em prática o ditado acima.
c.  Qual a importância do seu exemplo em relação à educação de seus filhos.
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3.     Qual a importância da comunicação do amor?
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Notas e Bibliografia:
  1. Pikunas, Justin. Desenvolvimento Humano. Tradução de Auriphebo Berrance Simões. São Paulo: McGraw-Hill, 1979. p. 175
  2. Id. Ibid. p. 175
  3. Id. Ibid. p. 175
  4. Campbell, Ross. Filhos Felizes. São Paulo, Mundo Cristão, 1991. p. 25
  5. ‘Abdu’l-Bahá. The Promulgation of Universal Peace. Willmette, Ill.: Bahá’í Publishing Trust, 1989. p. 175-6 (A tradução é nossa)
  6. Greenspan, Stanley. Filhos Emocionalmente Saudáveis, Íntegros, Felizes, Inteligentes. Tradução de Sérgio Teixeira. Rio de Janeiro, Campus, 2000. p. 17


[1] “Alteridade” é a condição de diferença que temos com os outros, da distinção entre o “eu” e o “outro”. Quando respeitamos a alteridade, damos aos outros o direito de serem diferentes de nós, respeitando essas diferenças.

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