Embora o que vimos até aqui nos pareça ser o mais essencial para o bom
encaminhamento ético e moral das crianças, muitas vezes os pais ficam em dúvida
sobre quais atividades podem desenvolver com seus filhos para estimulá-los no
caminho do bem. Explorar em detalhes tais práticas pedagógicas foge do escopo
desta obra, e deverá ser objeto de outro livro complementar. Mas fornecemos a
seguir algumas dicas, que podem ajudar os pais em seus esforços.
Preceitos: estímulo, aconselhamento, orientação,
explicação
Depois do exemplo, a prática pedagógica mais constante e fundamental para
a educação ética são as palavras de orientação, de correção e de explicação
sobre a conseqüência dos bons e dos maus atos. O bom comportamento deve ser
encorajado e estimulado através de frases positivas e propositivas, do tipo: “A
vovó fica feliz quando você dá um beijo nela! Quando a gente chegar, quero ver
você dando um beijo bem gostoso nela!”, em vez de corrigir o negativo com reprimendas
(“Que feio! Não cumprimentou a vovó!”).
Evite o “não”, solicitando o correto em vez de proibir o errado. Em vez
de “Não pode jogar bola dentro de casa!”, diga “Bola só pode jogar no jardim!”;
em vez de “Não pode comer se não lavar as mãos!”, prefira “Antes de comer é
preciso lavar as mãos!”; ao invés de “Não quero que você vá lá!”, escolha
“Quero que você fique aqui!”; em vez de “Pare de fazer bagunça!”, melhor seria
“Quero que você fique quieto agora!”.
Os pais devem se acostumar a explicar porque os bons hábitos são
solicitados, e, na primeira infância isso pode significar infinitas repetições:
“Você só pode brincar longe do fogão, pois pode cair algo quente em você e
machucar muito.”; “Agora vamos lavar as mãos para comer, para tirar os micróbios
que podem fazer mal!”; “O sofá pode estragar se você ficar pulando nele, por
isso quero que você fique sentado.”; “Assim como precisamos de comida para o
corpo ficar forte, precisamos da oração para fortalecer a alma”. Dê explicações
baseadas na realidade, mesmo para crianças pequenas, e não na fantasia, do tipo
“senão o homem do saco te pega!”.
A vida oferece infinitos momentos
educacionais, quando uma palavra de estímulo, orientação e explicação pode
fazer a diferença entre aprender uma lição moral ou não. Mas para isso os pais
devem estar atentos e usar as situações do dia-a-dia para o ensino do bom
comportamento. E a instrução precisa sempre ser sustentada pelo exemplo, pois
não podemos esquecer que a educação ética deriva muito mais da imitação e da
adoção dos valores do lar e da escola, do que de preceitos morais.
Provérbios, fábulas, histórias e relatos
Os seres humanos, principalmente as crianças, adoram histórias. Histórias
que exemplifiquem e elogiem as virtudes são importantes instrumentos para a
educação para o bem. Elas oferecem poderosas referências nas quais a
consciência pode se apoiar quando busca o caminho certo a ser seguido no
dia-a-dia.
Todo tipo de história vale para a reflexão sobre a importância das
virtudes. Parábolas, histórias e relatos religiosos têm guiado a humanidade em
todos os tempos, oferecendo vívidos exemplos do bem e do mal na vida. Existem
vários livros de histórias bíblicas para crianças que podem ajudar os pais
nessa tarefa.
As fábulas são outra fonte inesgotável de prazer e ensinamentos. As de
Esopo, de La Fontaine, da Carochinha, de Florian e de Monteiro Lobato servem
muito bem a este propósito. Elas podem ser encontradas em livros, ou mesmo na
internet, para download. Duas belas
coletâneas de histórias dessa natureza foram feitas por William J. Bennett e
podem ser encontradas em português, inclusive em formato ilustrado. Abaixo
oferecemos algumas dicas de livros e sites da Internet que os pais podem
utilizar.
Os provérbios (“gato escaldado tem medo de água fria”), ditos populares
(“a vida é dura pra quem é mole”), imagens (“tapar o sol com a peneira”) e
comparações (“fumar como uma chaminé”) também têm poder na educação moral. Eles
comunicam um significado de forma imaginativa e emocional que toca
profundamente a consciência. Apóiam-se em imagens para transmitir máximas com
ares de verdade absoluta. Podem ser muito úteis e dão um colorido especial à
comunicação quando utilizadas regularmente. Nem sempre expressam sentimentos
nobres, por isso devemos ser criteriosos na escolha daqueles que orientam para
o bem.
Afirmações Positivas
Afirmações são frases positivas ou negativas, pensadas ou faladas, a
respeito do que somos ou do que podemos ser e vivenciar. Frases como “Eu sei
ser paciente e calmo.”, ou “Eu posso ser organizado.”, ou “Eu sou digno de amor
e amizade.”, são afirmações positivas.
O mau comportamento está associado aos maus sentimentos, e estes
geralmente derivam de convicções negativas a respeito de nós mesmos e dos
outros. Durante o dia todo, ou mesmo a vida toda, somos bombardeados por
pensamentos negativos ─ as afirmações negativas ─ do tipo: “Eu não faço nada
direito mesmo!”, “Como sou atrapalhado!”, “Estou muito cansado!”, “Não
consigo!”, etc. Muitas vezes estas depreciações são ecos de condenações ouvidas
na infância, do tipo “Narigudo!”, “Exibido!”, “Nervosinho!”, etc.
As afirmações atuam no nosso inconsciente, e ele tem poder formativo em
nossas vidas. Está por trás de praticamente todas as escolhas mais
significativas que fazemos, para o bem ou para o mau, para nossa vantagem ou
desvantagem. Por isso, as afirmações positivas são importantes para harmonizar
nossas crenças mais profundas com o potencial de plenitude e beleza que já
existe dentro de nós. Elas servem como antídoto para as críticas e condenações
que fazemos a nós mesmos, ou que aceitamos dos outros, e nos ajudam a provocar
as mudanças que desejamos.
Quase tudo que desejamos mudar em nós mesmos pode ser alcançado através
de afirmações. E ajudar a criança a desenvolver este hábito saudável de pensar
bem sobre si mesma é uma ajuda preciosa para seu desenvolvimento ético e moral.
Mas devemos primeiro ser capazes de fazer este bem a nós mesmos, para então
podermos ensinar as crianças.
As afirmações positivas atuam melhor quando usadas em momentos mais
relaxados, como ao deitar-se, ao acordar, ou durante momentos de relaxamento e
meditação. Podemos usá-las regularmente com nossos filhos ao colocá-los para
dormir, aproveitando os momentos mágicos de aconchego e carinho para ensiná-los
a repetir as afirmações. Elas funcionam especialmente bem com crianças
pequenas, pois elas ainda não estão contaminadas com auto-imagem negativa. E as
mais poderosas são justamente aquelas afirmações que promovem a auto-estima.
Você pode redigir um conjunto de afirmações para você e para seus filhos,
e colocá-las em prática, como um exercício espiritual, durante vários dias,
alternando as afirmações conforme a necessidade e as circunstâncias. A
repetição de uma afirmação aumenta seu poder e sua eficácia.
As afirmações precisam ser bem pessoais, por isso devemos iniciá-las por
“Eu”, ou “Meu/Minha”, ou pelo nome (que é uma forma bem adequada de ensinar
afirmações a crianças pequenas que ainda se referem a si mesmas pelo próprio
nome em vez de dizerem “eu”). “Eu sou...”, ou “Andréia é...” é
uma forma poderosa, assim como “Eu posso...”, “Andréia pode...”.
Elas devem ser formuladas como se a mudança que desejamos já fosse
realidade, pois se afirmarmos coisas no futuro, em vez do presente, do tipo:
“Eu vou ser mais paciente.”, ou “Eu vou conseguir me controlar.”, o
inconsciente vai sempre remeter a mudança para o futuro, e ela nunca virá! A
afirmação deve indicar que o resultado já foi alcançado, e não que ainda está
por vir.
Devemos usar sempre frases que digam o que queremos ser e não o que não
queremos ser. Em vez de “Eu não critico as crianças!”, diga “Eu encorajo as
crianças”. Não use as afirmações para comparações, como “Eu posso dançar tão
bem quanto a Janete.” Concentre-se em você mesmo: “Eu posso dançar bem.”
Cada momento da vida pode exigir uma ou mais afirmações positivas diferentes.
A chave é identificar o que está incomodando e criar uma ou mais afirmações
para enfrentar a deficiência. Repita a afirmação várias vezes por dia, com
sentimentos de alegria e confiança. Quanto mais emoção genuína você colocar na
afirmação, melhor.
O mesmo procedimento descrito acima se aplica às crianças. Você
identifica os objetivos educacionais que tem em vista – como ajudar a criança a
ser mais paciente, mais gentil, mais corajosa, etc – e cria afirmações
apropriadas, pedindo que a criança a repita na hora de dormir, ou nos momentos
educacionais apropriados, que geralmente são justo aqueles quando ela fraqueja
na qualidade ou virtude que precisa ser desenvolvida.
Exemplos de afirmações positivas: “Sou grato à vida e gosto de comemorar
o bem que há nela.” “Eu posso controlar meus sentimentos através de meus
pensamentos, palavras e ações.” “Eu posso perdoar e ser gentil com quem me
maltratou.” “Eu olho para o lado bom das pessoas e de todas as coisas.” “Eu sei
comer sem sujar a mesa.” “Alexandre sabe arrumar seu quarto.” “André gosta de
ler.”
Oração e intercessão pelas crianças
Por milhares de anos, a oração tem sido considerada um instrumento
essencial para o progresso e a proteção espiritual. Krishna, Buda, Zoroastro,
Moisés, Jesus, Maomé, o Báb e Bahá’u’lláh ─ profetas de cujos ensinamentos
temos registros escritos ─, todos ensinaram a importância da oração. No século
XX, vários estudos se dedicaram a comprovar cientificamente o poder da oração e
seus resultados foram muito extraordinários. As pesquisas provaram, por
exemplo, que pacientes hospitalizados que recebem orações para sua cura têm
cinco vezes menos complicações infecciosas e uma incidência três vezes menor de
edema pulmonar.[1]
Assim, crie o hábito de interceder por seus filhos em oração, pedindo a
Deus que os proteja, guarde e abençoe. Não é necessário que a oração seja
formal, elaborada e complexa. Simplesmente converse com Deus como se estivesse
conversando com um querido amigo, e expresse seus sentimentos e suas
solicitações.
É importante aprender a entregar a Deus uma medida do destino de nossos
filhos, mas isso não significa abandoná-los. Em uma palestra uma vez um pai me
disse: “Eu desisti. Não sei mais o que fazer com meu filho, por isso
entreguei-o a Deus!”. Respondi a ele que entendia seu sofrimento e desespero,
mas que a coisa era o inverso: Deus é quem tinha entregado o filho a ele para
criar, e que não aceitava devolução. A missão dos pais de guiar e educar os
filhos é sagrada por natureza. Se não souberem como fazê-lo, devem procurar
aprender; se estiverem perdidos, devem buscar orientação; se estiverem
cansados, devem buscar ajuda. Mas não podem desistir. Nunca. A felicidade dos
filhos e deles próprios depende disso.
Exercícios:
1. Transforme
as seguintes instruções negativas em preceitos positivos, dizendo o que fazer e
não o que não fazer:
a) “Não quero que você minta mais!”:
____________________________________________________
b) “Não quero que você grite com seu irmão!”
______________________________________________
b) “Não pode mexer nas coisas que estão na
prateleira!”
______________________________________
b) “Não pode sair de perto da mamãe!”
___________________________________________________
2. Relacione alguns ditados ou
provérbios que lhe parecem ter valor para a educação moral das crianças.
___________________________________________________________________________________________________
3. Liste os comportamentos ou
atitudes de seu filho que você mais deseja ver melhorados. Então crie
afirmações que possa ensinar a ele para cada uma das situações, e utilize-as
nos momentos adequados.
___________________________________________________________________________________________________
4. Comente com o grupo
experiências positivas, suas ou de outrem, com a oração de intercessão pelos
filhos.
___________________________________________________________________________________________________
Sites na Internet
Os seguintes sites podem
ajudar no recolhimento de material e idéias para ajudar no processo de educação
ética.
www.animamundi.org.br: encaminha para
importantes sites na área da educação, cultura, religião e ciência.
Especialmente interessantes os links para sites que oferecem citações,
provérbios e histórias.
http://sitededicas.uol.com.br/cfolc.html:
fábulas e contos do folclore brasileiro, por região do país, contos da
Carochinha, de La Fontaine, Esopo, entre outros, para pesquisa ou download.
http://www.educacional.com.br: fábulas
e contos, inclusive com animação. Exige cadastramento prévio.
http://www.mundocaipira.com.br/folclore/5.asp#proverbios:
provérbios, travalínguas e adivinhações da cultura brasileira.
http://www.educacaomoral.hpg.ig.com.br/conta/conta.htm:
histórias de fundo moral, num site dedicado à educação moral.
http://www.metaforas.com.br/inicial.html:
inúmeras histórias e fábulas com ensinamentos morais. Pode-se pesquisar as
histórias por palavra-chave, como paciência, bondade, etc.
http://www.portaldafamilia.org/sccurious/pf_curious.shtml:
na seção variedades do portaldafamilia.org, você encontra várias histórias
adequadas, além de o portal ser uma fonte de orientação muito boa.
http://www1.uol.com.br/criancas:
histórias e fábulas animadas de autores clássicos e modernos.
http://www.emack.com.br/info/download/wsites.php:
oferece comentários sobre websites dedicados às crianças. Fonte de idéias e
jogos, mais do que histórias, mas muito bem montado e útil.
Livros:
O melhor é ir a uma boa
livraria e pedir pelos livros de educação infantil, histórias e fábulas, e
então escolher aqueles com os quais simpatizar mais. Peça por autores
clássicos, como La Fontaine, Esopo, Florian, além das histórias da Carochinha e
de Monteiro Lobato.
Duas obras de
fundamental importância, pelo volume e diversidade de material recolhido são os
dois volumes de “O Livro das Virtudes”, de William J. Bennett, publicados no
Brasil pela Editora Nova Fronteira.
Nos seguintes sites você também encontra listas de livros
úteis para trabalhar com a criança.
http://www.educacao.gov.br/sef/leitura.shtm:
oferece uma lista de livros de contos e histórias infantis selecionados para o projeto “Literatura em Minha Casa” do Programa
Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), além de dicas de como contar histórias.
http://www.netds.com.br/kids: oferece
dicas de literatura infantil e infanto-juvenil.
[1] Várias
destas pesquisas e suas fontes estão apresentadas em: Laszlo, Ervin. The Connectivity Hypothesis: Foundations of an Integral Science of
Quantum, Cosmos, Life, and Consciousness. New York: State University of New York Press,
2003.